Eu gostaria de dizer que existe um método ou um procedimento infalível para você comprar a ação de uma determinada empresa e sempre sair ganhando na Bolsa de Valores. Só que não.
Infelizmente, não existe, e este colunista não é nenhum vidente do mercado de ações.
O noticiário histórico recente ou passado sobre as empresas brasileiras mostra que até mesmo empresas de capital aberto e seus balanços públicos e APARENTEMENTE transparentes conseguem fraudar a boa fé de qualquer investidor.
Para ficar só nos exemplos nacionais temos mais recentemente Petrobras, Braskem, JBS, as empresas do Grupo X, entre outras, que ludibriaram seus acionistas.
Empresas como essas por anos e anos ocultaram de sua contabilidade –e do conhecimento do cidadão-investidor– atividades nada republicanas, como corrupção crônica de seus dirigentes, conluio com políticos e partidos, e negociata para aprovação de medidas provisórias e incentivos irregulares.
Isso sem falar na adulteração pura e simples de fatos relevantes.
Mas, o investidor iniciante na Bovespa pode, ainda assim, garimpar algumas oportunidades que surgem todas as semanas. É obrigatório saber em que você está se metendo.
PASSO A PASSO DO NOVO INVESTIDOR
Como eu já disse em textos anteriores, há alguns passos óbvios e necessários que você deve percorrer antes de colocar seu rico dinheirinho em um pacote qualquer de ações.
Eu sugeri que vocês, antes de mais nada, façam uma lista inicial com 20 empresas listadas na Bolsa que vocês se interessariam em investir.
Depois eu aconselhei que, dessas 20 empresas, vocês fiquem com apenas 10. Essas deverão ser acompanhadas diariamente, por semanas ou meses, a partir do noticiário e de acordo com a cotação vigente. Você precisa ESTUDAR o comportamento dessas ações e das empresas.
A pergunta 1: Em que tipo de empresa, afinal, você quer investir? Eu diria que um bom começo é eleger empresas que você admira e “concorda” com o que produzem. Isso é suficiente para acreditar e investir nela?
A pergunta 2: Qual a importância dessa empresa para a sociedade? Empresas com atividades fundamentais obviamente estão mais presentes na economia (nacional e internacional). Também podem estar mais sujeitas às oscilações do mercado externo.
Há uma grande diferença de valor intrínseco entre uma empresa que produz roupas (por exemplo) e uma que produz polímeros. Roupas e polímeros são duas coisas úteis, claro, mas você precisa entender o valor real das duas.
EXEMPLOS
Se você compra ações de uma empresa siderúrgica, por exemplo, precisa saber que suas ações estarão atreladas para todo o sempre à economia da China, a maior consumidora desse tipo de commodity.
Se você compra ação de uma petrolífera, tem de aceitar que os preços do petróleo não são definidos só pela capacidade produtiva e tecnológica dessa empresa, mas também pelo cartel internacional que manipula o preço do barril de petróleo mundo afora.
Se compra ações de uma empresa do disputado segmento bancário, tem de aquiescer ao fato de que a performance da economia como um todo, além da do próprio banco, pode elevar ou baixar o valor da sua ação.
E por aí vai…
Isso sem falar nos inúmeros outros fatores que podem afetar e causar solavancos no valor da ação que você adquiriu.
Preciso neste caso usar exemplos brutos e claros, e peço desculpas, mas é a única forma de ser didático.
Se você compra ação de uma empresa aérea, e um avião dessa empresa cai, é óbvio que o valor também cairá no dia do acidente (batam na madeira) e seguintes.
Isso não significa, porém, que esse valor nunca mais vai subir. E é por isso que o investidor na bolsa deve ter sangue frio e a paciência de um caçador.
O MUNDO NÃO PARA, NEM O VALOR DA AÇÃO
Vamos a mais exemplos extremados.
Se você compra ações de uma empresa ligada ao ramo do varejo ou da beleza, e o país atravessa uma grave crise política, econômica e de desemprego, está na cara que o consumo vai cair, porque as pessoas vão passar a consumir menos e/ou gastar menos com produtos supérfluos.
Depois do 11 de setembro, por exemplo, o valor das ações de seguradoras no mundo caiu vertiginosamente, mas se recuperou em poucas semanas ou meses. Na economia, e, especialmente, no mercado de ações, raramente alguma coisa é para sempre.
Mais exemplos? Se você compra ações de uma empresa que produz minério de ferro, por exemplo, e justamente naqueles dias a China anuncia que teve no trimestre um crescimento menor que o esperado pelo mercado, pode apostar que as ações vão cair.
Por outro lado, se uma guerra é deflagrada em algum lugar do mundo –e guerra consome minério de ferro aos borbotões–, pode ser que esse valor da sua ação suba rapidamente em poucos dias.
O que eu quero dizer é que, no fim das contas, tudo é relativo e, ao mesmo tempo, importante.
Por isso, quando você entra no mercado de ações não pode se desesperar, pois há fatores externos e internos às empresas que vão afetar direta, mas temporariamente, o valor das suas ações.
A Bolsa de Valores está longe de ser um cassino, como muita gente desinformada prega.
No entanto ela tem tantas variáveis que é preciso passar muito tempo estudando e se informando, antes de colocar seu suado dinheiro ali. Mas, repito, vale a pena.
Em resumo: quando você compra uma ação, está também “comprando” uma série de variáveis e de possibilidades –positivas e negativas– do destino e do mercado que podem influenciar o valor. Para cima ou para baixo.
Por isso é tão importante, como eu frisei em outros textos, que o mais importante em uma empresa são seus fundamentos.
Em breve, mais textos para ajudar você a aplicar na Bolsa.
Ou não.
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