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Crítica de cinema: “João, o Maestro” é uma história de amor à música e a Bach

Em termos de cinema, “João, o Maestro” pode ser classificado como um filme de aventura ou de romance, dependendo do ponto de vista ou gosto do espectador.

“Aventura” porque só essa palavra pode definir o que tem sido a vida do pianista e hoje maestro João Carlos Martins nas últimas sete décadas; porque poucas pessoas tiveram tantos altos e baixos profissionais e pessoais ao ponto de sua vida parecer mesmo uma saga. No caso, a saga das mãos.

Do estrelato internacional ao anonimato completo por anos; do auge profissional à desgraça junto à imprensa; isso sem falar em doenças, tragédias pessoais, acidentes e violência. Tudo isso o acompanha desde que ele nasceu, 77 anos atrás.

Mas também “Romance”. Porque João tem um caso de amor incondicional e obsessivo por um certo músico do século 17, chamado Johann Sebastian Bach.

Ao ponto de ser o único músico até hoje –a despeito de seus muitos problemas físicos– a ter gravado a obra completa (para teclado) do vetusto compositor de Leipzig (1685-1750).

MARTINS E GOLD

Não é pouca coisa. Nem mesmo Glenn Gould (1932-1982) ousou isso. Em comum, ambos têm a obsessão por Bach e um ocaso prematuro.

Gould morreu aos 50, bem doidinho, mas no auge da carreira.

Já uma das mãos de João Carlos, que também sempre foi meio doidinho, começou a morrer quando ele tinha apenas 26 anos, e também estava no auge: num acidente bobo, mas horrível e doloroso no Central Park, em Nova York.

O filme do diretor Mauro Lima faz jus a toda essa história de dor, sofrimento e, como todos sabem, de uma fantástica volta por cima.

Do ponto de vista cinematográfico, “João, o Maestro” é um dos melhores filmes sobre música e músicos já feitos. Sejam nacionais ou internacionais.

Além da direção precisa, do extremo cuidado estético, há um elenco soberbo por trás de tudo.

A começar pelos quatro diferentes atores que interpretam o maestro –da tenra infância aos dias atuais.

INVENÇÃO A 4 VOZES

E o fazem tão bem, e com tanta verossimilhança e cuidado que,  juntos, parecem compor uma impossível “invenção a quatro vozes” de Bach.

O fecho de ouro nessa performance é obviamente de Alexandre Nero, numa atuação absolutamente impactante –tanto como o pianista às voltas com as limitações físicas, tanto como maestro.

Alinne Moraes também tem uma atuação muito delicada e expressiva, mas isso só podem saber mesmo os que conhecem Carmen Valio, a companheira do maestro nestes últimos anos.

MÚSICA SUBLIME

Por fim há uma trilha sonora que não merece menos que o adjetivo de divina, com dezenas de peças de Johann Sebastian Bach (e Ginastera, e alguma coisa até de Hannon).

É gratificante saber que cada nota que você ouve do começo ao fim do filme foi tocada pelo próprio Martins.

Na vida real, como no filme, pode-se usar a frase preferida do maestro: “A música venceu”. De lavada.

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Assistia ao trailer de “João, o Maestro”

https://www.youtube.com/watch?v=JK2kQ-TSfac