O filme sul-coreano O Motorista de Táxi estreou sem muito alarde nas salas de cinema do país no último dia 11.
A resenha publicada em boa parte dos veículos de imprensa basicamente diz pouco sobre o filme, que é uma grande saga:
“Um motorista coreano é contratado para levar um jornalista estrangeiro até uma região onde estão ocorrendo protestos maciços da população em favor da democracia.”
O motorista em questão é Man-seob (o ator Song Kang-ho), o jornalista é Peter, um repórter alemão, e a região em conflito se chama Gwangju, na Coreia do Sul.
Todos existem, é tudo baseado em fatos reais.
ERA UMA VEZ (MESMO)…
Estamos em 1980 e a quase 35 anos antes da “primavera árabe”.
Os coreanos já estão com o saco cheio da ditadura militar e o heroico povo de Gwangju sai às ruas para marchar em protestos pacíficos e para cantar o hino do país.
Como sempre ocorre em ditaduras, em troca os manifestantes são massacrados pelo exército e por uma força militar disfarçada de civil, que desde a mão, o porrete e algumas balas nos “comunistas” (o povo que pede democracia).
“O Motorista de Táxi” conta não só a história dessa pioneira “primavera” sul-coreana, mas principalmente da relação profunda que nasce e se forma entre o modesto e rabugento taxista oriental e o bem informado, mas esnobe jornalista alemão.
AMOR E ÓDIO
Uma relação que começa com desprezo, passa pelo ódio, ruma para a agressão e depois coroa uma amizade verdadeira que nasce em momentos difíceis como esse. Vamos lá, isso não é spoiler, é algo óbvio desde o primeiro minuto em que os dois se encontram.
Man-seob é um pobre viúvo endividado que cuida sozinho da filhinha de 11 anos. E
Está devendo até as calças e, desesperado, espertalhão e nada ético, “rouba” a viagem de um outro colega. Ele acaba levando o jornalista até a zona de conflito por uma quantia que pode rearranjar sua situação financeira caótica.
Man-seob só está preocupado mesmo é arrumar dinheiro para pagar as dívidas e sustentar a pobre filha, que ainda por cima sofre bullying do filho do senhorio
Peter (o ator Thomas Kretschmann) é o jornalista que entra no país com um visto falso de missionário, um europeu metido até dizer chega, mas consciente de seu papel e que não hesita em arriscar a própria vida para mostrar a verdade ao mundo.
DOIS ESTILOS NUM FILME
Como eu disse no título deste texto, “O Motorista de Táxi” é para quem gosta de um cinema clássico que faz rir, se surpreender e até chorar, e para quem gosta de uma boa novela.
Na sessão que eu assisti em São Paulo, uma boa parte do público se emociona às lágrimas (nota da coluna: sim, eu fico olhando a reação das pessoas no cinema)
Por isso recomendo o filme a quem gosta de filmes dramáticos (põe dramático nisso).
Porém, infelizmente, o diretor Jang-hoon parece ter sido atacado no último quarto do filme pelo que eu chamo de “a síndrome do diretor que não quer acabar o filme”.
Aparentemente, ensimesmado e inebriado por sua obra até aquele momento brilhante, o diretor decidiu fazer da parte final uma verdadeira novela, cheia de capítulos, que dá voltas e mais voltas em torno do próprio rabo, demorando ao máximo em mostrar o desfecho.
São tantas idas e vidas que, das lágrimas, o público pode ir diretamente para o enfado.
Isso tira, sim, não só o brilho do filme, mas também pelo menos duas de suas cinco estrelinhas merecidas até então.
Mesmo assim nada disso deve fazer com que você desista dele: “O Motorista de Táxi” é algo que vale muito a pena ser visto. Mesmo terminando como uma espécie de novela dentro do filme.
O quê: “O Motorista de Táxi”
Onde: Em cartaz nos cinemas
Avaliação: Muito bom ???
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Assista ao trailer de “O Motorista de Táxi”
https://www.youtube.com/watch?v=LJp9Rp3iU74