Mesmo sem ter visto o filme, a famosa patrulhazinha do politicamente correto da internet andou festejando nos últimos meses o lançamento de “Pantera Negra”, que estreou ontem no circuito de cinemas.
O festejo (compreensível) se deve que, pela primeira vez, Hollywood e a Marvel estão colocando os negros num patamar acima no roteiro: como super-heróis, protagonistas, coadjuvantes e, claro, no cargo de diretor do filme também (Ryan Coogler).
Mas, convenhamos, seria inteligente a patrulhazinha ver o filme antes de soltar rojões.
Ok, o princípio deste primeiro longa-metragem sobre o herói Pantera Negra (interpretado pelo premiado ator Chadwick Boseman) é realmente inteligente e com intenção redentora.
Vou resumir sem fazer spoiler.
ERA UMA VEZ WAKANDA…
A famosa e jamais localizada cidade mítica de El Dorado, alvo da cobiça dos conquistadores europeus durante séculos, nunca ficou na América do Sul, e sim na África.
Também não se chama El Dorado, e sim Wakanda. Trata-se de um país tecnologicamente séculos à frente do nosso mundo ocidental.
Ela permaneceu oculta do mundo nos últimos séculos por dois motivos:
- um misterioso sistema de defesa que a esconde de exploradores, radares, satélites, GPS etc
- O nobre caráter de seu povo que, a despeito de ter recursos e armas para dominar o mundo, nunca o fez por uma questão de princípios morais e religiosos
Wakanda é uma monarquia e seu grande tesouro é o vibranium, o mineral – elemento químico mais poderoso do universo.
O vibranium é o coringa da história e serve para tudo: armas, energia, transporte, curas, purificação, construção etc… etc…
O reino de Wakanda está passando por uma transição importante e toda história gira em torno disso. Haverá uma luta pelo poder e ela pode decidir o rumo da humanidade.
Curiosamente, nenhuma das duas alternativas parece interessante.
ENTRE O PIOR E O PIOR
Estamos entre uma nova guerra mundial em que os negros irão à forra com o vibranium ou pela manutenção do establishment em que os negros seguirão como a maioria sofrida e discriminada no mundo, como sempre. Faça sua escolha.
Fora isso há dois problemas, digamos, estruturais para um filme de super-heróis e, principalmente, da Marvel:
O primeiro é que, para esse tipo de cinema, os efeitos especiais de “Pantera Negra” são medianos (de uma década atrás). Isso, agora sei, já poderia ser visto no trailer que estava nos cinemas nas últimas semanas.
O segundo erro (opinião minha, lembrem-se) foi a opção de caracterização dos “wakandanianos” por parte do diretor e dos executivos da produção. Para começar o sotaque em inglês dos personagens é enervante.
Não parece haver um padrão sonoro na composição da língua, e cada personagem parece ter seu próprio sotaque inglês e caricato.
Além disso, apenas para filosofar, os wakandianos são povo com democracia zero, ainda com muitos costumes tribais, e tão mimético e consumista como qualquer outro do (criticado) mundo ocidental.
Para um povo séculos à frente do Ocidente em termos da evolução, eles são comuns demais.
O filme também perde um pouco a força por causa da escolha de personagens ridículos para interpretar os vilões brancos. A começar por Garra Sônica (um risível Andy Serkis).
Poucas vezes viu-se no cinema vilões tão idiotas, aliás.
PONTO POSITIVO
Para finalizar, o único mocinho branco, o agente da CIA Everett Ross (o ótimo ator Martin Freeman), não passa de um coadjuvante do terceiro escalão na história, e isso definitivamente é um ponto positivo neste primeiro filme de super-heróis negros.
Mas “Pantera Negra” ainda está devendo, e muito, ao cinema de entretenimento.
Esperemos os próximos…
Filme: Pantera Negra
Onde: Em cartaz nos cinemas
Avaliação: Razoável ?
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Assista ao trailer de “Pantera Negra”