“O que pode acontecer com Marcius Melhem?”
Muitos leitores do site Ooops, espectadores do meu canal no YouTube, e muitos jornalistas amigos, têm perguntado a mesma coisa.
Perguntam se posso explicar em que “pé” está a investigação da denúncia de assédio sexual de Dani Calabresa e outras sete mulheres contra o ex-diretor da Globo. E o que pode acontecer com ele.
Vou tentar contextualizar e responder a essa pergunta.
Investigado desde junho de 2021
Melhem está sendo investigado pela Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher” e pelo Ministério Público do Rio desde junho de 2021.
A denúncia das mulheres só começou depois que ele processou Dani Calabresa, por danos morais. Calabresa é o personagem central da matéria da revista “piauí” de 4 de dezembro de 2020.
A reportagem o pintava como um predador sexual, e sua principal vítima, segundo a revista, era Calabresa.
Após ser processada, ela e mais sete mulheres vão ao MP, e depois na Deam, acusá-lo de assédio sexual. Um aparente contra-ataque ao processo que ele mopveu contra a humorista.
Como está
Em 31 de agosto passado a delegada (3ª do caso) concluiu a investigação.
Após 12 meses colhendo depoimentos das supostas vítimas, provas e ouvindo testemunhas, a Deam não viu motivos para indiciar Marcius Melhem por assédio sexual.
Após mudanças, já estamos na 4ª delegada à frente do caso.
Mas, a terceira delegada, a encaminhou seu relatório para a promotora (então a 2ª, já estamos na 3ª).
Porém, essa segunda promotora deixa o caso após apenas três meses.
Porém, dias antes de deixar a investigação, essa promotora aceitou uma petição da defesa de Calabresa e as outras mulheres: para que sejam ouvidas novamente duas testemunhas delas.
Uma delas já havia feito depoimento. A outra, uma atriz, só o havia acusado no “compliance” e no MPT.
Mas se recusou a integrar o rol de acusadoras.
Pois bem, essas testemunhas têm até março para serem ouvidas.
Na prática, o que houve foi uma manobra (legítima) dos advogados e advogadas de Mayra Cotta para que o inquérito não fosse encerrado.
Objetivo provável? Ganhar mais tempo.
A promotora aceita o pedido, mas em seguida se despede do caso também. Estamos agora na 3ª promotora na investigação.
Inocente ou réu
O MP, que acompanhou tudo, é que vai fazer uma espécie de “parecer” à Justiça.
O “parecer” (na verdade chama “manifestação”) indicará se o ex-diretor da Globo deve ser inocentado, e o processo arquivado; ou se deve responder a uma ação penal por assédio sexual.
Não há prazo para isso acontecer.
Também não é possível prever nenhum resultado, a despeito das muitas provas materiais e testemunhas ouvidas pela polícia, como este site já publicou.
O que pode acontecer com Melhem?
Possibilidade 1: Ele vira réu e passa a ser julgado por acusação de crime de assédio e importunação sexual. Esse processo se dá na Justiça criminal (pena de 1 a cinco anos de prisão);
Possibilidade 2 – O caso é arquivado; se isso ocorrer, o ex-diretor já disse a amigos que todas serão processadas por denunciação caluniosa (dois a oito anos de prisão mais multa).
A amante
Como este site também mostrou com exclusividade, a origem, da denúncia inicial, feita apenas em caráter familiar e privado, foi o da roteirista da Globo Bárbara Duvivier.
Quem divulgou seu nome foi a revista “Veja”. Até então este site manteve seu nome sob sigilo.
Ela foi amante de Melhem por quase sete anos. Mensagens mostram que a relação sempre foi consentida e apaixonada.
Até que aconteceram duas coisas: o marido dela descobriu que estava sendo traído; e ela engravidou e não sabia quem erao pai: se é Melhem ou o marido.
Desculpa
Supostamente, para justificar a traição, passa a alegar para a família que foi vítima de assédio por parte do ex-diretor. No entanto, não quer denunciá-lo à Globo. Sua madrasta é a atriz Maria Clara Gueiros.
Quando Bárbara descobre que Melhem não é o pai da criança, ela volta a procurá-lo.
Uma mensagem sua para ele, no início da gravidez, mostra a roteirista pedindo para encontrá-lo, pois estava com saudades e carente.
Quando Dani Calabresa vai acusá-lo de assédio moral, no segundo semestre de 2019, Verônica Debom, ressentida com o “pé na bunda” (expressão dela) que havia tomado dele após um ano de namoro, e Barbara Duvivier, supostamente ansiosa para justificar a traição, se unem e convencem Calabresa a também acusá-lo de assédio sexual.
Essa é a origem do Caso Calabresa, que revoltou o Brasil (inclusive a mim mesmo).
Todas foram demitidas
Segundo o site Ooops apurou, todas as acusadoras de Melhem, sem exceção, foram demitidas.
Foram demitidas também várias testemunhas, inclusive duas das principais arquitetas da acusação: a atriz Maria Clara Gueiros e a autora Luciana Fregolente (bem como a filha desta, Carol, outra testemunha de acusação).
Melhem acabou dispensado pela Globo cerca de seis meses antes do término de seu contrato.
DAA e compliance
Vamos contextualizar os nobres leitores agora.
Entre 2019 e 2020, a emissora investigou o caso por meio de seus departamentos de Desenvolvimento e Acompanhamento Artístico (DAA) e de compliance. DAA e complaince arquivam a denúncia.
No início de 2020, o DAA pediu o arquivamento da denúncia. As acusadoras pressionaram e não deixaram o caso terminar. Ele acabou demitido.
Em 2021, a Globo decidiu pelo arquivamento definitivo, como este jornalista publicou no UOL.
VEJA A CRONOLOGIA
2019
O caso começa no segundo semestre de 2019, quando Dani Calabresa descobre que foi tirada por Melhem de dois programas: o “Fora de Hora” e o especial de humor de fim de ano “A Gente Riu Assim”.
Enfrentando problemas pessoais, ela se revolta com Melhem vai ao DAA denunciá-lo por assédio moral (na verdade ela foi afastado porque parte da equipe de humor da Globo não aguentava mais suas grosserias; ela enfrentava um período de depressão após o divórcio com Marcelo Adnet).
Porém, passa a ser instada por Maria Clara Gueiros, a autora Luciana Fregolente e Bárbara Duvivier, ex-amante de Melhem; e por fim a peça principal da engrenagem: Verônica Debom, a ex-namorada dele que acabara de levar um “fora”.
Todas passam a acusá-lo de assédio sexual.
Calabresa é persuadida, volta ao DAA, depois ao “compliance”, e agora denuncia o ex-diretor por assédio sexual.
O DAA investiga, ouve testemunhas e envia ao compliance, sugerindo o arquivamento da denúncia. Não havia provas ou testemunhas sólidas de nada, segundo o setor.
As quatro (Calabresa e as outras três arquitetas) se enfurecem, exigem o afastamento e demissão de Melhem. O que de fato vai acontecer meses depois.
2020
A BLITZ – Nesse ano, após a denúncia subir ao compliance, as acusadoras fazem pressão em todos os escalões da Globo exigindo a demissão de Melhem.
Em seguida, segundo este site Ooops apurou, começam a arquitetar a denúncia e a “caçar” outras mulheres, ex-namoradas ou ex-casos de Melhem para que entrem na denúncia.
A palavra correta é mesmo “caçar”.
As acusadoras iniciam uma verdade “blitz” interna na Globo, pedindo ou intimando outras mulheres que tenha sido próximas a Melhem, a denunciá-lo.
As funcionárias e mesmo amigas de Melhem se recusam a entrar no que as “vítimas” chamam de “a causa” ( a causa contra o assédio).
Todas que se recusam são ameaçadas de cancelamento ou de terem a carreira prejudicada na Globo.
Elas estão “falando grosso” porque, assim que afastam Melhem, tentam tomar posse da direção de Humor da Globo.
Além disso, exigem que a Globo contemple todas as “vítimas” com programas e papéis.
Intimidação – No processo há depoimentos de funcionárias da Globo afirmando terem sido intimidadas e até ameaçadas.
A principal “intimidadora”, segundo registro no “compliance” da Globo, é a atriz Verônica Debom, ex-namorada de Melhem.
Ela foi dispensada da Globo. Debom é denunciada no “compliance” sob acusação de “intimidação” contra funcionárias.
Melhem foi dispensado em agosto de 2020. Seu contrato iria até 2021, mas a emissora decidiu antecipar o fim, embora pague o acordo até o fim e ainda divulgue uma “love letter”, agradecendo aos serviços prestados.
Em dezembro de 2020, a revista “piauí” publica a denúncia de assédio contra ele. A peça de acusação de Cotta e das 8 mulheres está pronta para ser levada à polícia e ao MP.
Dias depois da matéria, Melhem processa Calabresa por danos morais; e seus advogados fazem também uma denúncia contra Mayra Cotta na OAB, por várias de suas declarações públicas.
2021
Em fevereiro, a “piauí” publica mais uma matéria contra o diretor, ainda mais desabonadora.
Calabresa e as demais acusadoras contra-atacam e preparam uma denúncia contra ele, o que só vai ocorrer formalmente por volta de junho.
Em junho, a denúncia chega ao MP. Depois, chega à polícia do Rio.
A Delegacia Especial de Atendimento à Mulher) e o Ministério Público Estadual passam a investigar o ex-diretor da Globo.
Começa a investigação e coleta de provas e depoimento de testemunhas dos dois lados.
2022
Junho – Este jornalista que vos escreve começa a publicar as primeiras reportagens que mostram buracos nas denúncias das oito supostas vítimas.
Também publica mensagens ao longo dos anos trocadas entre Calabresa e o ex-diretor, assim como as de Debom.
As mensagens mostram carinho, admiração e gratidão mútua. Também tem flertes descartados de ambos os lados. Calabresa havia obtido na Justiça que Melhem fosse proibido de mostrar as mensagens.
Essa proibição caiu em 8 de agosto do ano passado. A Justiça de São Paulo liberou o acusado de mostrar mensagens (em caso de justa causa, art. 153).
Também em junho de 2022, este jornalista publica mensagens trocadas por um ano entre Verônica Debom e Melhem. Ela foi sua namorada por um ano.
É Debom quem, na segunda matéria da “piauí”, o acusa de lhe ter pedido um boquete dentro da emissora (testemunhas dizem que era o contrário: ela que brincava dizendo que tinha de fazer um boquete ao “cara que me tirou da Record”).
Em agosto, Mayra Cotta, a advogada de Calabresa e das outras acusadoras, é condenada pelo tribunal de ética da OAB, por mercantilização da profissão. Cabe recurso.
No mesmo mês, a delegada da Deam conclui seu trabalho sem indiciar Melhem. Ou seja, após meses ela não vê indícios para “indiciá-lo”. A delegada entrega um relatório à promotora.
A defesa de Calabresa e as outras mulheres manobra para que o inquérito não acabe e pedem que duas testemunhas (delas) deponham de novo.
Os depoimentos devem ocorrer até março.
Dezembro – O caso está na mão da TERCEIRA promotora envolvida na investigação; ela deverá enviar um “parecer” à juíza do TJ-Rio.
Não há prazo para uma decisão.
Desde o início da investigação, quatro delegadas, três promotoras e uma juíza estiveram ou estão à frente do caso.
MELHEM PROCESSA CALABRESA NA JUSTIÇA
Na esfera judicial só existe hoje um processo: o que Melhem move contra Calabresa por danos morais. Ele pede indenização de R$ 200 mil.
Em depoimento dado diante de um juiz, ela declarou: “Eu via vantagem nele dar em cima de mim”.
2023
A quarta delegada e a terceira promotora do caso ouvirão novamente as duas testemunhas que já depuseram anteriormente (uma delas, apenas no Ministério Público do Trabalho) em favor das acusadoras.
A investigação chega perto de completar 2 anos sem que ele seja nem sequer indiciado.
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