Como a maioria de meus seguidores sabe, fui “caçado” na semana passada nas redes sociais, após ter retuitado um post e um meme de terceiros fazendo humor (de mau gosto) sobre o atentado, a facada em Jair Bolsonaro.
Bolsonaro sofreu o ataque de Adélio Bispo de Oliveira na última quinta, durante sua campanha em Juiz de Fora, em Minas Gerais.
Adélio está preso. Foi enquadrado na LSN (Lei de Segurança Nacional), algo que não ocorria no país desde o início dos anos 80.
Reconheci que meus retuítes foram insensíveis, grosseiros e os deletei.
No dia seguinte a eles, também escrevi a Carlos, filho do candidato, e me desculpei (veja imagem abaixo).
Repito “retuítes” porque 99% dos ataques que recebi no Instagram, por exemplo, foram e são de pessoas que acham que eu criei os dois posts, que eu fiz o meme, que eu escrevi uma postagem com erros de português, inclusive.
Motivo disso é que normalmente as pessoas não leem sobre o que comentam; e outra justificativa é que muitas pessoas no Instagram não estão no @Twitter e nem sabem como é o design dessa rede.
Elas não sabem que eu retuitei, e não criei nada.
Tudo isso, claro, foi ajudado por uma montagem de má-fé de um internauta (identificado) com essa exata intenção: prejudicar. Bom, não fui o primeiro e não serei o último.
Mas, mesmo assim, me senti muito mal e muito arrependido diante do enorme e gravíssimo fato que, na verdade, ocorreu: a tentativa de assassinato de um ser humano, antes de ser um candidato.
Pedi desculpas públicas, pois errei feio. Esse não é um caso para brincadeira, menos ainda de mau gosto. Complicado explicar e muita gente não vai entender, mas vou tentar.
No momento dos retuítes não havia informação sobre a gravidade do fato. Eu estava ouvindo rádio num táxi e a notícia era que Bolsonaro estava bem, que não havia ocorrido nada de grave. Havia. E ele não estava nada bem.
Bom, mas a verdade é que, nas redes, não há perdão.
Tanto sei disso que até escrevi um livro que em alguns capítulos trata sobre o “tribunal de exceção” que a internet se tornou (“Como Lidar com Crises, Jornalistas e Outros Predadores”, editora Bella Letra, 2013).
Nem vou falar sobre o tipo e a variedade de ataques e ofensas e ameaças que sofri.
Porque, no fundo, eu as entendo.
Ainda que de uma maneira enviesada, esses ataques dos eleitores-seguidores de Bolsonaro têm uma justificativa que julgo humana, embora o tamanho da agressividade surpreenda: eles amam o candidato, se identificam com ele, com suas ideias, com seus ideais.
Estão cansados de outros discursos, de governos corruptos, e veem em seu candidato uma esperança de renovação.
Natural que avancem sobre qualquer pessoa que considerem inimiga. Se isso acontece já com fãs de artistas e bandas, como não iria ocorrer num ano eleitoral, e com políticos?
ESQUERDA, EU?
Entre os principais ataques que sofri, apenas um vou citar: a “acusação” de que sou de “esquerda”.
Ora, qualquer pessoa que me me lê ou que me acompanha como jornalista sabe que não tenho qualquer preferência ou lado partidário.
Muito pelo contrário.
Sou crítico a todos os partidos. Ao sistema e à legislação eleitoral. Aos governos. Aos candidatos. Aos políticos. Aos servidores. Às emissoras de TV.
Como jornalista fui e sou “doutrinado” por um manual de Redação para o qual o profissional de jornalismo deve ser crítico, isento e 100% apartidário.
Esse é tripé ético-profissional que me acompanha há 27 anos.
Inclusive, se alguém tiver paciência de procurar meus tuítes, vai achar alguns em que sou extremamente crítico a colegas de profissão que claramente não seguem essa cartilha e defendem políticos.
Inclusive alguns condenados e presos por corrupção.
Em todo caso, o turbilhão em que me envolvi serviu para me deixar menos burro. Não é porque você escreve um livro sobre um assunto que se torna sábio e imune a cometer erros.
Aprendi mais uma vez, entre outras coisas óbvias, que:
1) você deve ter cuidado com o que posta ou mesmo retuíta, especialmente se não há informações concretas sobre um fato;
2) não confunda: redes sociais NÃO SÃO redes de amigos; muitas pessoas que querem seu mal estão seguindo você agora mesmo na sua TL
18 ANJOS NA MINHA VIDA
Ao mesmo tempo, por causa de tudo que ocorreu, tive uma grata surpresa.
Surpresa com pessoas que me estenderam a mão.
Que, ou por mensagem direta, telefone, whats ou mesmo em postagens públicas, foram compreensivas e me dedicaram palavras de carinho e cuidado. Afeto em seu estado mais puro.
Foram exatamente 18.
18 anjos, 18 almas bondosas, 18 seres humanos generosos, bons, reconfortantes, iluminados, calorosos e, principalmente, corajosos, que usaram seu tempo para me ajudar. Que, com palavras, me sustentaram no pior momento.
A maioria dessas pessoas, inclusive, eu nunca vi na vida. Não conheço pessoalmente.
São pessoas que acompanham meu trabalho, que compreenderam o meu erro e aceitaram as minhas desculpas com grande generosidade (inclusive um desses é eleitor de Jair Bolsonaro).
Vocês não imaginam como esse gesto aqueceu minha alma, e me ajudou a aceitar e suportar o “massacre” digital que, convenhamos, causei a mim mesmo. Eu mereci, sim.
Não vou identificar essas pessoas porque temo prejudicá-las com isso, mas escrevi a cada uma sobre meus sentimentos e minha imensa gratidão.
São pessoas que ganharam um lugar permanente o meu coração e para as quais vou orar todos os dias enquanto eu viver.
Que todas as bênçãos do mundo recaiam sobre vocês.
ANJO DA GUARDA
Um desses doces espíritos, inclusive, foi além ao defender no Twitter minha honra, minha família, minha história como jornalista, e principalmente minha isenção profissional.
Chamou para si, publicamente, ainda a ira dos que já me atacavam.
Como agradecer a alguém que eu nunca vi por um gesto desse tamanho?
Você encheu meus olhos de lágrimas.
E a única forma de agradecer e eternizar o que sinto é aqui, neste texto, e com mais apenas duas palavras.