“Divino Amor” estreou esta semana em São Paulo e traz Dira Paes, 49, como protagonista, em (mais uma) grande atuação.
Dirigida por Gabriel Mascaro (sempre lembrado por “Boi Neon”), essa nova ficção fala de um Brasil que existe num futuro próximo.
Nele, uma religião fundamentalista está no poder governamental e ditando as regras morais do país.
Joana (Dira) é só mais uma burocrata ignorante e tapada, que trabalha numa repartição pública como atendente em uma espécie de cartório.
Em sua função, ela recebe casais que querem se divorciar.
Em vez de fazer seu trabalho, porém, a enxerida Joana tenta interferir na decisão dos casais, tentando demovê-los da ideia de separação.
Divino Amor sem filhos
Acontece que a própria Joana não é bem-resolvida dentro de casa.
Além do trabalho, ela e o marido frequentam um culto que prega aos fiéis, basicamente, que casem e tenham filhos.
O discurso do pastor de Joana é oco, vazio, risível. A música de louvor é um amontoado de clichês.
Todo o discurso da seita gira, gira, gira, mas acaba voltando para a ladainha da felicidade do casamento: a “família acima de tudo” é um de seus lemas (hahaha).
Joana é uma boa fiel, casada, ama o marido mas não consegue engravidar.
Filme inteligente
Isso é basicamente tudo que vocês precisam saber sobre “Divino Amor”, um filme instigante, com enredo inteligente e com uma estrutura até certo ponto incomum no cinema brasileiro.
É uma ficção despretensiosa, mas cuja estética e, principalmente, a trama, convencem.
Ponto negativo: filme tem aquele narrador que completa a história com informações ao público, e definitivamente não precisávamos disso.
Em nenhum momento o filme relaciona qualquer cena a uma religião atual, específica, mas, lá no fundo, a gente sente nada sutilmente que é um tipo de “neopentecostalismo” travestido de fé e “ciência”.
Sexo e religião
O diretor ou quem bolou as cenas ritualísticas do filme, definitivamente entende do assunto e fez um ótimo trabalho. A vinculação da fertilidade da fé e do solo, o simbolismo onipresente da água…
“Ah, mas tem excesso de cenas de sexo”, eu li em outras críticas sobre o filme.
Bom, acontece que o sexo é o ingrediente primordial da trama. Como ocorre com quase todo fundamentalismo religioso, Joana e seu “povo” são hipócritas, ignorantes, têm desvios de caráter e muita co-morbidade de origem –ah vá!– sexual.
Os líderes desse Brasil do futuro têm sede de poder, mas ao mesmo tempo uma ignorância imensa, e um discurso político raso, e um patriotismo extremamente tosco.
Qualquer semelhança do Brasil futuro com o atual, definitivamente, não é mera semelhança.
Filme: “Divino Amor” #DivinoAmor
Onde: Em cartaz nos cinemas
Avaliação: Muito Bom ???
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Trailer de “Divino Amor”