Numa rara coincidência há simultaneamente três filmes em cartaz nos cinemas cujo tema é o mesmo: a cegueira, a falta ou deficiência da visão.
Temos a comédia dramática alemã “De Encontro com a Vida”; o nacional e belo “Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos” (com Edson Celulari); e finalmente o japonês “Esplendor”, que estreou na última quinta-feira (10).
Não há dúvidas: “Esplendor” –dirigido por Naomi Kawase– está à frente dos demais.
“De Encontro” narra a história de um jovem que perde 95% da visão, mas que ainda sonha em trabalhar no melhor hotel de Munique. É fofinho, mas um tanto espalhafatoso, exagerado (embora seja baseado em uma história real).
Já “Teu Mundo Não Cabe Nos Meus Olhos” é um dos primeiros bons filmes nacionais lançados em 2018 e se ancora numa trama simples e muito bela e comovente.
Este filme do diretor Paulo Nascimento tem como vigas de sustentação as excelentes performances de Celulari (como o pizzaiolo Vitório) e Leonardo Machado (como seu garçom e melhor amigo, Cleomar)
Mas, “Esplendor”, lançado lá fora no ano passado, está em um outro nível.
Como muitos filmes asiáticos (especialmente os japoneses), tem uma cadência, um andamento diferenciado e mais lento em relação aos outros dois. Mas sua história traz emotividade num nível incomparável.
O filme fala não só da cegueira, mas também de amor –inclusive do amor ao cinema.
LEGENDA PARA CEGOS
A jovem, bela e delicada escritora Misako (a atriz Ayame Misaki) vai trabalhar numa espécie de ONG que se dedica a criar narração de filmes para pessoas cegas ou com grave deficiência visual.
Misako se empenha de corpo e alma no trabalho, mas geralmente recebe duras críticas do “grupo de discussão de cegos”, formado para analisar seu texto antes do lançamento, digamos, comercial do filme.
Grosso modo o que Misako faz é narrar o que ocorre nos momentos silenciosos do filme, numa espécie de guia descritivo aos cegos durante a exibição.
Mas, coitadinha, ela não consegue agradar.
Ora um integrante do grupo acha que ela tagarelou na hora em que não devia. Ora outro quer saber porque ela deixou de citar esta ou aquela cena. Ora outro acha que ela interpretou demais, e que isso atrapalha a imaginação de quem é cego.
Poxa, ela está ali para ajudar, mas só está tomando bordoada.
Um desses críticos é o ex-fotógrafo premiado e renomado sr. Nakamori, que perdeu quase toda a visão devido a uma doença.
Ele é bem mais velho que Misako e ambos acabarão se aproximando e afastando devido à doença e ao próprio trabalho de ambos.
Porém, há dois problemas logo de cara nessa relação: o azedume de Nakamori e a própria dificuldade de aceitar críticas por parte de Misako.
E ela tem agravantes: ela perdeu o pai que amava e sua mãe está muito velhinha e doente, morando em local distante.
CRÍTICAS
Vi críticas acusando “Esplendor” de ser “sentimentaloide” e até de apelativo.
Pfuuu…
Pessoalmente não consigo entender o espírito com que alguns críticos se dirigem aos cinemas.
Há impressão que, por mais bela que seja a obra, alguns sempre tratam de encontrar defeitos e problemas que eu considero imaginários ou, pra falar a verdade, provavelmente de algum fundo pessoal.
Sentimentalista? Não acho.
Cheio de sentimentos? aí, sim, e todos muito belos, discerníveis, quase palpáveis.
A despeito de tratar da cegueira, o filme tem um brilho, uma luz e uma fotografia dignas de uma obra de arte cinematográfica.
É gracioso, é reconfortante, é doce e faz bem ao espírito de quem assiste.
Se isso não for um cinema de qualidade, não sei o que mais poderá sê-lo.
Filme: Esplendor #Esplendor
Avaliação: Excelente ?????