Há exatamente 20 anos a TV Globo passou o maior sufoco de sua história. A emissora literalmente chegou à beira da falência.
Em 2003, o ano em que Lula assumiu o primeiro de seus três mandatos como presidente, foi também um annus horribilis para a família de Roberto Marinho.
Principalmente porque o patriarca das organizações Globo morreria nesse ano, sem assistir à recuperação plena de seu império.
Mas, o que eclodiu em 2002, foi uma mistura de estratégias arriscadas décadas antes, mais turbulências políticas e econômicas no Brasil e uma tonelada de mudanças na geopolítica internacional.
É sobre esse momento tenso da Globo que o jornalista Ricardo Feltrin trata em seu canal no YouTube.
Passo maior que a perna
Desde o início dos anos 70 a Globo já não tinha nenhuma concorrente à altura e seu faturamento já era pra lá de assombroso, assim como é hoje.
De forma estratégica, a emissora e o grupo estavam investindo em outros setores do mercado de comunicação.
Da produção de equipamentos para a TV comum a empresas de satélites; da compra de participação de emissoras estrangeiras a cabo até uma sociedade com a Microsoft ou o Bradesco.
Fora a compra de participações em outras empresas. Nada escapava do focinho farejador da Globo.
A bomba estourou
Pois bem, na segunda metade dos anos 90, a Globo também decidiu enfiar o pé no acelerador para a implantação da TV por assinatura no Brasil.
Para quem não lembra, ou ainda não tinha nascido, a Globo foi uma das criadoras e proprietárias da Net. E foi justamente aí que o mingau desandou de vez.
O início deste milênio foi marcado pela incerteza com a eleição de Lula, a implosão da economia russa, a explosão do valor do dólar (que passa então de R$ 2 para R$ 4) e, para colocar a cereja nesse bolo pobre, a bolha das empresas ponto.com estourou.
Foi um “deus nos acuda”. E piorou ainda mais: os atentados de 11/09 chacoalhariam a economia mundial por anos.
Bolsa e Abutres
Por três anos a Globo enfrentou credores internos e externos; entrou literalmente em “default” (eufemismo para calote); fundos de investimentos conhecidos como “abutres” chegaram a pedir sua falência (para tomar seus bens).
A essa altura, o Grupo Globo devia quase US$ 2 bilhões, que seriam mais de R$ 20 bilhões hoje. Ou seja, dois anos do faturamento só da TV aberta.
Apesar disso, os bilhões investidos na criação da infra-estrutura para a TV paga no Brasil haviam elevado o caos à terceira potência.
Mas, a Globo saiu disso e deu a volta por cima.
Marluce
No entanto, uma personagem hoje pouco conhecida teve uma importância fundamental nesse “renascimento” da Globo: Marluce Dias da Silva.
Foi essa mulher quem substituiu Boni e assumiu a Superintendência Executiva da emissora.
Psicóloga de formação, pós-graduada em Administração, coube a Marluce, hoje com 72 anos, fechar todos os ralos de gastos adquiridos ao longo de décadas com o tal (caríssimo) “padrão Globo de qualidade”.
Foi Marluce quem ajudou a fazer a Globo vender patrimônio, participações em empresas, desvincular-se de negócios furados ou de futuro incerto. O Grupo Globo quase abriu capital na Bolsa.
Claro, valia tudo para sanear as finanças do império de Roberto Marinho, que estavam em petição de miséria.
Marluce chegou à Globo em 98 e se afastou no final de 2002, para cuidar da saúde. Mas, só deixou a emissora mesmo em 2007.
A Globo só saiu dessa situação periclitante em 2005.
Hoje, continua sendo não o maior grupo de mídia do país, mas um dos maiores do mundo, para infelicidade de bolsonaristas rancorosos com a “Globolixo”. Ou será #Globoluxo?
Mas, que esteve à beira do abismo, esteve.