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Reflexão: Por que não noticiei a morte cerebral de Gugu

Texto reflexivo sobre a morte do apresentador Gugu Liberato (1959-2019)

Estou escrevendo este texto em meu site privado porque não creio que é um texto jornalístico, e sim uma reflexão pessoal sobre a morte de Gugu Liberato, anunciada ontem (22) nos EUA.

Aos fatos:

Às 16h32 da última quinta-feira (21) eu recebi uma mensagem de uma pessoa em quem confio muito. Uma mensagem direta e avassaladora.

“Gugu morreu. Caiu do telhado e já está com morte cerebral. Não estão confirmando porque a mãezinha dele está indo pra Orlando.”

Confio demais nessa pessoa que me enviou a mensagem. Atordoado, liguei para ela e obtive mais detalhes.

Desliguei e fiz mais três ligações consecutivas. O fato de estar cobrindo TV há mais de 20 anos permitiu que eu tivesse as pessoas certas com quem confirmar ou negar a terrível notícia.

Três ligações e 15 minutos eu já sabia praticamente toda a terrível história.

Tragédia doméstica

Gugu havia dado entrada no hospital no dia anterior. Já chegou em estado gravíssimo.

Estava mexendo em alguma coisa no telhado ou no sótão (não se sabia ao certo) e tinha caído de uma altura considerável. Aparentemente o forro tinha desabado.

Gugu foi levado às pressas para o hospital em Orlando

Chegou lá já no nível 3 da escala de coma de Glasgow. Em outras palavras já chegou ao hospital com 85% de chances contra.

Mas, a coisa era ainda bem pior: ele estava com um sangramento enorme no cérebro ao ponto de não poderem operá-lo; só podiam entubá-lo e colocá-lo para, talvez, sobreviver por aparelhos (que foi o que aconteceu nas horas seguintes).

Os médicos norte-americanos já tinham constatado a morte cerebral no começo da quinta-feira. À tarde, eu soube disso.

Então agora respondo à pergunta do título acima:

Não publiquei nada sobre Gugu, em primeiro lugar, porque não queria ser o arauto de uma notícia tão triste. Vai ter clique? Repercussão? Comoção?

Vai, e daí?

Não éramos amigos íntimos, mas Augusto Liberato foi uma pessoa com quem tive contato nos últimos 20 anos. E em cada um deles fui agraciado com sua generosidade.

Não só a generosidade material, dos muitos patinhos de borracha ou a linda cesta de Natal que me deu, mas principalmente a profissional,

No dia 25 de junho de 2009, quando Gugu surpreendeu a todos saindo do SBT e assinando contrato de 10 anos com a Record, fui o primeiro colunista do país a anunciar o contrato oficialmente.

Simplesmente porque Gugu quis que eu fosse o primeiro.

Em 2013, quando decidiu falar novamente sobre o escândalo da falsa entrevista do PCC, exibida dez anos antes, foi comigo que ele abriu o coração.

Simplesmente porque ele confiava em mim.

E essa generosidade profissional ele ainda me presentou em muitos outros momentos nos últimos anos.

Gugu Liberato sabia exatamente a celebridade que era.

E sabia o quanto uma notícia exclusiva, um furo sobre ele, era valiosa para um jornalista como eu.

Não publiquei nada sobre sua morte cerebral, em segundo lugar, em respeito a sua família e seus funcionários.

Por sentimentos à sua mãe tão fofa; à sua irmã Aparecida; à sua mulher e a seus filhos adoráveis.

Terceiro motivo

Não publiquei nada sobre Gugu, em terceiro e último lugar, por causa de uma amiga que levo pela vida, chamada Esther Rocha.

Grande profissional, uma das melhores assessoras (e cozinheiras!) que já conheci, ela esteve por trás de Gugu nas últimas décadas.

Não só assessora, mas uma escudeira e um escudo. Incansável e extremamente discreta.

Ela esteve ali nos bastidores de Gugu todos estes anos, nos altos e baixos, nos bons e maus momentos.

Inclusive no pior deles, esta semana, onde deu um banho de profissionalismo e recebeu em troca o respeito de toda a imprensa do país (a responsável, pelo menos).

Sábados, domingos, feriados, Esther nunca deixou de atender a mim ou a outros jornalistas com transparência, honestidade e lealdade para com os dois lados: tanto o de Gugu como o de nós jornalistas.

Tive até a sorte imensa de ter trabalhado com ela, mas infelizmente por pouco tempo. Por alguns meses fui colunista de bebidas em seu site gastronômico.

Esther sabia que eu sabia.

E também sabia que eu jamais publicaria nada em respeito a ele, sua família e em nome de nossa amizade.

Obrigado por tudo, Esther! E contando… ❤️

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