Quem gosta de documentários tem poucas oportunidades de vê-los no Brasil. Há uma vez por ano o festival “É Tudo Verdade” e hoje o serviço de streaming Netflix. Porque, convenhamos, o circuito de cinema no país é “madrasto” com esse gênero.
Como a moda é fazer listinhas disso ou daquilo, o site Ooops apresenta hoje um resuminho de seis documentários absolutamente sensacionais que você pode ver na Netflix.
Não custa repetir que tudo é uma questão de gosto, e que essa lista –como outras– é feita de acordo com o gosto pessoal deste escriba. Vamos aos seis melhores:
Pornocracy: The New Sex Multinationals
Lançado em 2017, este documentário francês choca pela abordagem que faz do universo da pornografia desde os anos 80. O que mais impressiona é a qualidade jornalística.
Ele não fica apenas naquele arroz com feijão de mostrar “oh, como a vida das atrizes é triste”, “oh que deprimente”, “oh que podridão”. Não. Ele parte em busca da origem e do funcionamento do submundo do que conhecemos como pornô “pseudogratuito” na internet; e de como nas últimas décadas uma única empresa (com uma sede fictícia em Luxemburgo) conseguiu o “monopólio” desse conteúdo.
O documentário demonstra sérios indícios (leia-se provas) de que, por trás da palavra “gratuito”, está uma grande estrutura de lavagem de dinheiro e transferência irregular de capital controlada por alguma “força superior” insondável.
Atari: Game Over
Documentário sob medida para nerds, e tenho certeza que a maioria de nós (tá, eu assumo que sou) já deve ter assistido.
Assim como “Pornocracy” desvenda a história do pornô online, este mostra a evolução dos jogos e videogames. E também é uma espécie de lição de (má) gestão empresarial: afinal, como uma empresa que chegou a ter praticamente o monopólio dos games em seus primórdios foi ultrapassada e deixada na poeira por companhias mais jovens e dinâmicas, e por fim, como estas últimas estão sendo devoradas pelo universo dos games online?
Como pano de fundo o documentário mostra a escavação de um aterro sanitário no Novo México em busca de dezenas de milhares de cartuchos da grife Atari que foram enterrados lá pela própria empresa.
As Casas Mais Extraordinárias do Mundo
Ok, essa aqui é uma série destinada a pessoas interessadas em arquitetura e engenharia, e também no que a genialidade humana é capaz de criar.
Uma mansão incrível feita com restos de um Boeing. Ou uma casa subterrânea que se esconde em meio à paisagem na Grécia. Ou ainda uma outra que se camufla em um deserto nos EUA. É tudo assombroso e engenhoso.
O único senão que este site faz para esse documentário é a chatíssima atriz e co-apresentadora Caroline Quentin. Ela consegue atrapalhar a beleza da série com seus insuportáveis, afetados e infindáveis gemidos de deslumbramento (com sotaque britânico), em todo lugar que pisa.
É um tal de “Oh isso!” “Oh aquilo!” “Oh my God!” “Oh your God!” Ela chega a encher os picuás. Em último caso, elimine o som e fique apenas na legenda e com as imagens fabulosas.
Hip-Hop Evolution
Você pode não gostar de hip-hop, mas se gosta de música ou tem interesse em ritmos, este documentário é obrigatório.
Lançado em 2016, ele conta de forma linear e didática os primeiros 20 anos desse estilo, de longe um dos mais inovadores e revolucionários nascidos no século passado. O filme entrevista MCs, compositores, letristas, DJs, produtores e mostra como o gênero evoluiu desde os seus primórdios nos anos 70.
É uma grande aula de cultura afrodescendente e norte-americana. Uma lição de como uma música tão rica floresceu em redutos tão pobres. Talvez seja possível comparar que o hip hop, assim como o blues, nasceu no meio da dor.
Nobody Speak: Trials of the Free Press
Tudo começa com o vazamento de um vídeo de sexo do grande “estrelo” de luta-livre dos EUA dos anos 80, o lendário Hulk Hogan.
Ele foi filmado trepando com a mulher do melhor amigo (calma, o melhor amigo aprovava). O vídeo vazado acabou publicado pelo lendário site Gawker, que também não era nenhum poço de bondade.
Só que, o que começa parecendo apenas um julgamento por perdas e danos morais e materiais, vai se materializar na maior atrocidade judicial já cometida contra a liberdade de imprensa e informação.
Não vou revelar para não estragar a surpresa, mas no fim do documentário você nem vai lembrar mais do vídeo, de tão enojado que ficará ao saber da pantomima, e do poço de manipulação que estava por trás do estupidilionário processo que destruiu financeiramente o Gawker.
Wild Wild Country
Deixei o melhor por último. Melhor para mim, claro. Afinal, nos anos 80 eu era um “hiponga” esotérico e fui um grande devorador dos livros de Bhagwan Shree Rajneesh –mais conhecido apenas como Osho.
Guru espiritual, Osho montou um império baseado em edição e venda de livros muito bem acabados (e caros), além da doação de dinheiro por fiéis (qualquer semelhança etc…). Ao contrário dos outros gurus, Osho não pregava a pobreza, mas a ostentação. Chegou a ter 20 Rolls-Royces.
Mas o problema real é que havia tanta loucura e permissividade entre seus seguidores, que ele e sua turma tiveram de fugir às pressas da Índia, antes que fossem linchados. Osho e sua linda serviçal e secretária, Ma Anand Sheela, decidem mudar de mala e cuia para os cafundós do Oregon, nos EUA, onde compram milhares de acres de terra desértica.
Além de ter abandonado centenas de fiéis na Índia ao deus-dará, a mudança do guru acaba transtornando a vida de uma pacata cidade de aposentados conservadores norte-americanos. Sob comando de Sheela, a seita acaba criando uma cidade imensa no meio do deserto, com infra-estrutura maior que tudo que havia num raio de centenas de quilômetros dali.
O que acontece é uma quase guerra civil, que acabará por envolver propriedades, astros de Hollywood, importação de mendigos de todos os estados dos EUA (isso mesmo!), a Receita Federal e, pior, o FBI. No meio disso, a secretária Sheela se torna um cão de guarda, porque Osho decidira fazer voto de silêncio e não fazia absolutamente nada.
É tudo tão irreal, tão absurdo –especialmente o desfecho– que parece que a gente está assistindo a um novelão do Aguinaldo Silva ou Glória Perez. É uma das histórias reais mais incríveis que eu já assisti. Sheela pica a mula e abandona Osho com seu séquito de auxiliares. Dizem que isso acabou com a saúde de Osho, que morreu relativamente jovem, aos 58 anos (em janeiro de 1990).
O pior de tudo: comprei e li pilhas e mais pilhas de livros do Osho. Snif… ?
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