Na comunidade minúscula de Gioia Tauro, na Calábria, famílias de ciganos (e africanos) dividem entre si não só miséria, mas violência, fome, sujeira e, principalmente, preconceito e repressão da polícia italiana.
Entre os unidos ciganos, porém, o que chama a atenção é que as crianças são tratadas como adultos desde cedo, e praticamente todas já crescem ao mesmo tempo como vítimas e delinquentes.
MISÉRIA É MISÉRIA…
Roubar é algo comum na vida dos ciganos locais, que por outro lado também são achacados por gangues de italianos abastados.
O que mais choca e chama a atenção é que, desde a tenra infância, ciganinhos bebem álcool e fumam cigarros o dia todo. E tudo diante de seus pais, avós e tios omissos e permissivos.
Esses maluquinhos obviamente também repetem os maus hábitos dos adultos, como a absoluta falta de higiene.
É uma espécie de círculo vicioso medonho.
CIGANOS MISERÁVEIS
As ruas são pútridas, nojentas. As casas são mais como barracos de alvenaria. A energia elétrica é roubada. Falta dinheiro e comida.
Os adultos analfabetos estão pouco se lixando para educação das crianças.
Aliás, não se vê escolas, livros e nem nada ligado remotamente à cultura.
O que essa gente chama de celebração familiar é, no máximo, um ritual de embebedamento alcoólico coletivo.
Nesse ambiente violento e angustiante, o pai e o irmão do jovem cigano Pio Amato, de 14 anos, acabam presos depois de mais um roubo frustrado e vão para a cadeia.
O garoto Pio então entra em crise porque se tornou o único “homem” da família e precisa “levar pão para casa”.
Ele não sabe ler, nem escrever, é tímido, mas ao mesmo tempo é um jovem ousado e quer mostrar que tem valor à família. E fará o que puder para alimentá-la. Inclusive se envolver em mais violência se necessário
Os caros leitores estão angustiados com esses parágrafos?
“Aiinnn, mas por que eu vou querer ir ao cinema assistir uma coisa dessas?”
Porque é a realidade nua e crua de milhares de pessoas, e às vezes faz bem para a empáfia ver a realidade como ela é.
(mas, se você prefere apenas ver super-heróis fictícios destruindo o planeta, esteja à vontade também).
E isso é só uma parte de “Ciganos da Ciambra”, ou apenas “Ciambra”, que está em cartaz nos cinemas.
É um filme de um realismo que machuca a alma, e de fato está longe de ser qualquer tipo de entretenimento. Não são atores ali. São pessoas reais. É quase um documentário, na verdade.
Ninguém com alguma sensibilidade sairá do cinema sem remorso, tristeza e com um enorme nó na garganta.
É o tipo de cinema que mostra o pior de uma parte abandonada e esquecida da humanidade. É triste, porém necessário.
NADA DE REALITY SHOWS DE CIGANOS RICOS
Esqueça esses reality shows boçais sobre ciganos milionários e briguentos da TV paga.
Se por um lado tem a virtude de mostrar uma visão cinematográfica de uma desconhecida comunidade cigana pobre, por outro o faz como se fosse uma tragédia romana.
Dos mais de 100 filmes que esta coluna já viu nos cinemas em 2018, esse foi de longe o mais impactante e chocante.
Chamá-lo apenas de drama, como tem sido classificado na mídia, é ser condescendente demais com um verdadeiro terror.
Filme: Ciganos da Ciambra (ou Ciambra)
Avaliação: Ótimo (e chocante) ????