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Cinema: O Tradutor enche o coração de dor e amor

Rodrigo Santoro em cena do filme "O Tradutor"; crítica por Ricardo Feltrin, site Ooops

“O Tradutor”, que acaba chegar às salas de cinema do Brasil, é um daqueles raríssimos filmes em que a gente sai da sala de cinema um ser humano melhor do que o que entrou.

Delicado, sensível, humanista, emocionante, por vezes devastador, o filme –uma co-produção cubana e canadense (de 2018)– mostra que como a bondade e a empatia pelo próximo pode se tornar um fardo doloroso.

Especialmente se o “próximo” for uma criança inocente amaldiçoada pelo destino, como são as crianças vítimas e descendentes de vítimas da tragédia de Chernobyl, ocorrida 33 anos atrás.

No filme, Rodrigo Santoro (mais para baixo eu falo dele, pois merece um intertítulo à parte) interpreta Malin.

Malin é um professor cubano de literatura russa que é convocado com outros colegas para servir de intérprete para crianças russas num hospital em Havana.

O Tradutor de Chernobyl

Essas crianças estão contaminadas e sofrendo doenças decorrentes da contaminação pela radioatividade na usina nuclear russa em 1986. A tragédia está classificada como nível 7 –o mesmo dado ao desastre de Fukushima pós tsunami, no Japão, em 2011.

Além dos mais de 30 mortos imediatamente ou logo após a explosão da usina russa de Chernobyl, estima-se (por baixo) que mais de 4.000 outras vítimas também morreram nos anos seguintes em decorrência de doenças causadas pela radiação. Entre elas, centenas de crianças.

Em plena era da Guerra Fria, com Cuba apoiada pela então União Soviética, Fidel Castro decide abrir as portas do fabuloso sistema de saúde cubano para receber e tentar curar crianças contaminadas.

Elas viajam com seus pais, mães ou tutores russos, que não sabem espanhol. Os professores e cubanos com domínio do russo são chamados para servir de intérpretes para pais e crianças.

Além de ter um argumento e um roteiro absolutamente fora dos clichês tradicionais (tudo é baseado em história real), o filme de Roberto e Rodrigo Barriuso tem uma textura, uma estética, uma delicadeza e uma história tão lindas que chegam a tirar o ar do peito e a encher os olhos de lágrimas de boa parte da plateia do começo ao fim.

Foi possível ouvir soluços na sala o filme inteiro.

Ao ser tirado da sala da universidade e jogado compulsoriamente num corredor de hospital com crianças desenganadas e padecendo das piores dores, Malin (Santoro) sofre uma catarse, um colapso e tudo isso vai colocar em risco não só sua sanidade, mas a unidade de sua família.

Rodrigo Santoro

Eu disse que ele merecia um intertítulo, não disse? Seu talento já é internacionalmente reconhecido, mas em “O Tradutor” eu diria, como cinéfilo, que sua atuação está uma “oitava” acima do melhor papel que ele já possa ter feito (incluindo o já lendário “Bicho de Sete Cabeças”).

Santoro, aos 43 anos, mostra mais uma vez que já está num patamar completamente diferente, que já entrou no círculo dos melhores atores em atividade (de qualquer idade ou país, diga-se).

A composição de seu personagem, Malin, é algo que beira –sem exagero– o sublime em termos de técnicas de dramaturgia e interpretação. Ele consegue lançar ao público toda a dor e conflito de seu personagem. É uma atuação, para mim ao menos, inesquecível.

Amor e dor

Difícil imaginar que um filme possa ser tão lindo e tão doloroso ao mesmo tempo. O filme é classificado como “drama”, mas no fundo é também uma história de doação e de amor. Não o amor romântico, mas o que abarca a humanidade inteira.

E não levante de poltrona após o fim, pois os dizeres finais na tela sobre a origem da obra são um toque de ouro para uma obra absolutamente emocionante.

“O Tradutor” não é um filme que mereça cinco estrelinhas. Merece seis ou mais. Santoro também.

Filme: O Tradutor (2018) #OTradutor
Onde: Em cartaz nos cinemas
Avaliação: Fabuloso ??????

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Veja o trailer de “O Tradutor”