No programa de hoje no canal Ooops, vamos falar sobre uma das grandes máculas da história da dramaturgia e da sociedade. Não só a brasileira, mas mundial: o racismo.
Há séculos este é um mal que divide a humanidade, e a TV e o cinema não escaparam disso.
Esta semana a Globo estreou a novela “Vai Na Fé”, finalmente uma novela com protagonistas negros que não são nem totalmente pobres e nem escravos.
Li algumas críticas elogiando a novela por ser um marco da “inclusão”, mas penso diferente.
Como assim, “inclusão”?
Não consigo engolir a palavra “inclusão” só porque uma emissora tem um elenco cuja cor da pele está presente na maioria da população. Isso não é inclusão. É um mínimo de bom senso.
Aliás me espanta que ainda hoje, um quinto do século 21 transcorrido, nós ainda estejamos “comemorando” a inclusão de negros em seja lá o que for.
De qualquer forma, não deixa de ser positivo que a Globo, uma das maiores produtoras de novelas e séries do mundo, finalmente tenha feito algo que já deveria ter feito no século passado.
Globo racista?
A despeito de “Vai na Fé”, não podemos esquecer jamais que por quase 50 anos a dramaturgia da Globo tratou os negros apenas como escravos, lacaios, serviçais, amas de leite, confidentes da sinhazinha e outros papéis subalternos.
Exceção, talvez, tenha sido o grande Milton Gonçalves (1933-2022), que ainda conseguiu brilhar interpretando professor, delegado e promotor. Porém, a maioria dos papéis também era de personagens secundários e desfavorecidos.
O exemplo cabal me veio quando a Folha me incumbiu, em 2013, de deixar pronto um obituário da grande atriz Chica Xavier (1932 – 2020).
(nota: sim, todos os veículos deixam obituários prontos por questões óbvias).
Chica Xavier
Chica fez parte da minha tenra infância como telespectador. Qualquer novela em que ela estava tinha minha audiência.
Porém, só depois de velho, ao pesquisar sobre sua vida, fui tomado de espanto ao ver como uma atriz tão espetacular teve quase que somente papéis de serviçais ao longo de mais de 40 anos.
Para mim foi um choque perceber que uma profissional com tanto talento tivesse sido limitada pela Globo a servir de “escada” para sinhazinhas, capatazes, senhores de engenho e outros “patrões”.
Hoje parece tão óbvio o quanto a Globo (assim como outras emissoras) foi racista por décadas na escalação de seu elenco.
Publicidade não escapou
Isso vale também para a publicidade, que sempre se gaba de não produzir peças de anunciantes, e sim “conteúdo”.
No entanto, demorou 70 anos para que os gênios das agências permitissem que as propagandas tenham casais interraciais.
O Outro Lado dessa luta
O Outro Lado dessa luta
Ao mesmo tempo, essa necessidade de reparação muitas vezes pode ter efeito oposto.
Acontece que o cinema, assim como a TV, o esporte, e a sociedade ocidental de forma geral, já nasceu racista.
Entretanto, parece que hoje todos tentam buscar uma reparação e um equilíbrio, até mesmo na ficção.
“Pantera Negra” (2018) é um exemplo disso.
Porém, um exemplo negativo nacional foi o filme “Tudo Ou Nada”, exibido no ano passado nos cinemas, com a vida de Eike Batista.
No filme, a inclusão de personagens negros tem efeito totalmente negativo, na minha opinião.
Por quê?
Porque, ao incluir negros na direção das empresas X, de Batista, a cinema faz o empresário parecer um homem atento e interessado em ter negros em sua empresa e até no “board” de sua holding.
Nada mais mentiroso.
A verdade é que “Vai na Fé” é só o começo. Nada mais que uma obrigação de quem tem parte de culpa no racismo.
Conheça o Canal Ooops no YouTube
Conheça todo site Ooops