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Música: Show da Hillsong revelou Brasil invisível

Crítica e resenha do show da Hillsong United

Após seis anos a banda Hillsong United voltou a se apresentar num único show em São Paulo, no último sábado. Um dia antes teve outro em Curitiba.

Também haverá outro em Brasília (16) e depois eles seguem em turnê pela América do Sul.

Trata-se de uma das bandas da chamada “christian music”, nascidas na Hillsong Church.

É o genuíno gospel britânico. A música da Hillsong é traduzida, adaptada e copiada por igrejas e grupos mundo afora.

A igreja foi fundada no início dos anos 80 na Austrália, pelos pastores Brian e Bobbie Houston.

Um dos integrantes da United é Joel, filho do casal. A igreja é vinculada à vertente das Assembleias de Deus.

O show da Hillsong na Arena Anhembi provocou em mim um grande impacto.

Acostumado aos shows “laicos”, o que eu vi e ouvi ali foram duas horas de música e louvor com mais de 20 mil pessoas (99% jovens com menos de 30 anos) cantando todas as canções.

Uma das coisas boas da didática Hillsong é que todas as letras nos shows são exibidas em telões.

Mas, para mim, foi mais que um show ou um espetáculo.

Na verdade foi uma catarse que revelou um Brasil que a gente não vê nestes tempos de polarização e ódio nas redes sociais.

Um Brasil educado, feliz, sem raiva no coração, sem rancor.

Um país cristão de verdade, não o cristianismo desses “cidadãos de bem” hipócritas que a gente vê todo dia ofendendo e ameaçando de agressão e até de morte aos outros nas redes sociais.

Higiene por dentro e por fora

Ao contrário de outros shows no Anhembi, quase não se via sujeira e nem sequer papel no chão no entorno ou dentro da Arena.

Na verdade minha surpresa foi tão grande que passei o tempo todo tentando achar alguém com uma latinha de cerveja ou um cigarrinho na mão. Ou alguém fumando um baseadinho.

Pasmo, não achei uma viv´alma. Se alguém fez isso, o fez longe dos olhos alheios.

Havia filas enormes filas para o show que tinha lotação esgotada há mais de um mês, mas nem parecia um evento “sold out”.

Tudo que se via eram jovens felizes, em grupos, brincando, rindo e respeitando quem estava na frente e atrás nas filas ou nas pistas.

Esperei dois dias para escrever este texto porque precisei assimilar o choque de ver brasileiros que eu nunca havia visto e nem acreditava existir.

Surpresa maior ainda pelo fato de serem jovens me dando o exemplo ali. Como se dissessem “sim, nós existimos”.

Hillsong e eu

Devo dizer em primeira pessoa: não sou evangélico, mas a Hillsong faz parte da minha vida desde o final dos anos 90.

Eu conheci seus grupos (existem vários mundo afora, que cantam em várias línguas inclusive português) numa das piores fases da minha vida.

Pode parecer clichê, mas eu enfrentava o pior momento possível: a morte do meu pai, uma crise pessoal, espiritual e profissional sem precedentes. Eu estava literalmente acabado.

Foi então que as músicas caíram um dia, por acaso, em meus ouvidos como um remédio poderoso, um bálsamo que iluminou a escuridão.

Nunca me esqueci da primeira vez que ouvi o álbum “All Things Are Possible” (1997). Ele mudou minha vida para melhor. Realmente, tudo era possível.

Musicalmente falando, a Hillsong United (e Worship também) constrói suas canções sobre harmonias doces e delicadas, que passeiam entre acordes maiores e menores de uma tal ordem que chegam a causar sensação agradável ao corpo.

Senão a todos, ao menos no meu corpo e no daquelas 20 mil pessoas presentes no último sábado. É definitivamente música que mexe com a gente.

Foi assim que essa igreja, sua música e os muitos integrantes de suas bandas acabaram entrando em minha vida para nunca mais sair. São como companheiros de todo dia.

As músicas da Hillsong viraram inclusive minhas músicas preferidas para tocar ao piano, em casa e em meu canal no YouTube –onde ensino a tocar algumas delas para iniciantes em piano.

Viajei para Londres em 2013, inclusive, com o objetivo de conhecer pessoalmente a igreja (que ainda não existia em São Paulo).

Num lindo domingo daquela primavera londrina tive a sorte (ou bênção) de assistir a cinco cultos com 5 bandas diferentes no famoso Dominium Theatre.

Brasil invisível

No último sábado, porém, eu vi pela primeira vez ao vivo banda que eu passei os últimos 20 anos só escutando.

E também foi a primeira vez que eu vi, ao vivo, um Brasil que eu só conhecia em teoria.

Um Brasil de pessoas educadas e respeitosas, que não brigam e nem se ofendem.

Que se abraçam e cantam juntas para homenagear a Jesus Cristo e a Deus, e não gente ruim que se autodenomina “cristã” enquanto prega a violência e o autoritarismo.

“Estávamos com saudade de vocês. Já faz muito tempo que não vínhamos pra cá”, disse Joel ao público que respondeu:

“Também estávamos com saudade.”

Várias vezes eu olhei aquela multidão, toda aquela meninada e me perguntei:

Será possível que aqui no meio estão aqueles perfis e arrobas que passam o dia xingando e ameaçando aos outros no twitter?

Será possível que alguém aqui dentro defende a morte de quem pensa diferente?

Será que aqui tem gente que persegue minorias? Que defende censura, pena de morte, ditadura e o AI-5?

Eu sinceramente acho –e torço– que não.

Lua visível

O que a Arena Anhembi abrigou no último sábado foi, para mim, uma revelação e também um tipo de evento que raramente a gente tem a sorte de presenciar ou vivenciar.

O espetáculo celeste começou, aliás, no exato instante em que a banda tocou o primeiro acorde.

Estava uma noite fria e nublada em São Paulo. Quando a Hillsong subiu ao palco e começou o show, o céu se abriu e uma enorme e brilhante Lua apareceu.

Podem duvidar mas senti que aquele lugar até se aqueceu com um tipo de amor e de fé de verdade.

Tomara que tenha sido um sinal de um Brasil hoje invisível, mas que um dia vai aparecer para todos nós.

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Trailer do filme sobre a Hillsong