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Cinema: Desejo de Matar causa catarse e leva vingança até a poltrona

Remake de um sucesso dos cinemas da primeira metade dos anos 70, “Desejo de Matar” estreou esta semana com Bruce Willis no lugar do lendário Charles Bronson (1921-2003).

As diferenças entre os filmes são superficiais.

No filme de 1974, o personagem central e vingativo, Paul Kersey, é um arquiteto; já Bruce Willis é um cirurgião brilhante em Chicago (EUA).

De resto, o mesmo: psicopatas invadem a casa de Kersey, matam sua mulher adorável e esforçada, abusam sexualmente de sua filha adolescente, roubam seus pertences.

E saem ilesos, como no livro “Death Wish”, de Brian Garfield, que inspirou ambos os filmes.

A onda de criminalidade na cidade não parece ter solução alguma, a polícia age de forma tacanha (como sempre), e Kersey não para de receber inocentes baleados no hospital.

É quando começa a ocorrer a “mutação”.

MORRE UM PACIFISTA

Ele, que nunca havia tocado numa arma, começa a aprender a manejá-las e depois sai sem rumo pela cidade, atrás dos perpetradores da barbárie em sua casa.

Deve ser a trilionésima história sobre vingança familiar nos cinemas nos últimos tempos.

Só nos últimos meses tivemos “Três Anúncios Para Um Crime” (Oscar de Melhor Atriz, para Frances McDormand), o eletrizante “Em Pedaços” (com uma Diane Kruger mais digna ainda de um Oscar), e o perturbador japonês “O Terceiro Assassinato” (que está ainda em cartaz), entre outros.

Esse tema –vingança– nunca vai desaparecer dos cinemas ou da TV.

O sentimento e desejo, ainda mais em casos medonhos como o interpretado por Willis e Bronson, é inevitável. E absolutamente humano.

ANJO DA MORTE

É preciso ser angelical, uma alma muito compreensiva ou evoluída ou seja lá o nome que quiserem dar para isso, para conseguir ver sua família destroçada por um bando de drogados frios e vagabundos, e ficar quietinho e de mãos atadas dentro de casa.

Mas sabemos que é isso que ocorre no mundo todo. Somos impotentes. E quase todos obedecemos às leis.

Dizem que, em 1974, o filme com Bronson causou burburinho porque a história envolve um amável cidadão que muda de personalidade (ou de comportamento) e sai atrás do sangue dos bárbaros que invadiram sua casa.

Compreensível a então polêmica, pois, no mundo real, fazer justiça com as próprias mãos é ser igualmente um fora da lei. É rebaixar-se ao nível da escória. É violar uma regra civilizatória fundamental.

PAI DE FAMÍLIA MATA BANDIDO?

Mas, como disse, já existe o mundo real, onde a vingança praticamente nunca ocorre: afinal, quantos pais e mães de família honestos já saíram por aí matando os assassinos de seus filhos? Quem é louco ou insano de fazer isso?

Só que agora, exatos 44 anos depois de Charles Bronson, vejo uns poucos tontos em redes sociais defendendo boicote ao filme –tipo “oh, não assista, é fascista”.

Como se quisessem impedir que a ficção tenha o direito de mostrar a vingança.

Não sei onde isso vai parar, além de um local chamado estupidez.

Critiquem ou esperneiem à vontade, é seu direito, mas falar em boicote me parece só mais uma imbecilidade da atual “patrulhazinha” hipócrita e fingida da internet brasileira.

Aliás, por que não essa gente não fica indignada quando monstros fictícios morrem de forma horrenda em outros filmes?

Afinal, os assassinos da família Kersey, em “Desejo de Matar”, são exatamente isso: monstros fictícios na tela.

Deixem em paz os humanos e seus sentimentos humanos.

Sim, “Desejo de Matar” é um filme se vê com os olhos, mas se sente com o fígado.

Sim, é improvável não sentir algum sentimento (humaníssimo) de alento e redenção com ele.

Sim, o filme provoca catarse no corpo do espectador honesto enquanto leva a vingança do personagem até cada uma das poltronas do cinema.

Ainda que apenas na imaginação, o público se sente vingado contra as monstruosidades do sistema e do mundo em que vivemos.

Filme: Desejo de Matar

Avaliação: Excelente ?????

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Assista ao trailer de “Desejo de Matar”, com Bruce Willis

https://www.youtube.com/watch?v=nAvhwmWf0B8