“O Retorno do Herói”, comédia francesa em cartaz nos cinemas, parece teatro. Aliás, seria facilmente adaptável para uma comédia no palco.
Cada cena, cada quadro, cada frase de cada ator e atriz mostram a preocupação fotográfica, de marcação e de estética do diretor Laurent Tirard.
Em sua 1h30, é como se tudo estivesse sendo encenado num palco, como uma ópera bufa, tendo como tenor Jean Dujardin (o picareta e covarde Captain Neuville) e como soprano Mélaine Laurent (a ardilosa Elisabeth).
Para quem não lembra, Jean Dujardin fez o premiadíssimo “O Artista” (em 2011, ganhador de 5 Oscars) e na sequência o hilário “Os Infiéis” (2012).
Resumindo sem (muito) spoiler: o capitão do exército francês Neuville pede em casamento a mimada, histérica e ricaça Pauline (Noémie Merlant), mas é convocado às pressas para a guerra antes de consumar o laço.
Ele faz mil juras de amor à amada, mas depois que vai à guerra logo desaparece sem dar mais notícias.
Pauline é uma personagem totalmente histérica e cômica, e sofre tanto com o silêncio do amado que fica quase entre a vida e a morte.
No entanto, para salvá-la, sua irmã, Elisabeth, começa a escrever e mandar cartas como se fosse Neuville.
O problema é que ela perde o controle das coisas, porque o ex-cunhado vagabundo desaparece mesmo, e Pauline e toda a família acabam enredados na enorme mentira que a própria Elisabeth criou.
Aparentemente cansada de ficar inventando um “mito” (um Neuville heroico), Elisabeth acaba enviando uma “última carta” do capitão a sua irmã, como se ele estivesse cercado, ferido e à beira da morte.
O RETORNO DO HERÓI (PICARETA)
O problema é que o picareta volta três anos depois, só que agora Pauline está casada com outro e com filhos.
O filme vai a partir daí, de forma graciosa, para uma comédia francesa inteligente e mesmo “classuda”.
Há algumas cenas hilárias e muitas ironias aos clichês do próprio cinema, como uma sequência de um duelo ao amanhecer com direito a música de caubói e um corvo grasnando ao fundo.
Ou outra cena hilária e metalinguística dos tempos atuais, em que Neuville faz uma afirmação extremamente machista a Elisabeth, ao que ela responde:
“Estamos em 1812, não na Idade Média. Não seja tão preso a esses preconceitos (machistas)”
Falando em igualdade de gêneros, a atuação de Mélanie Laurent como Elisabeth rivaliza e em muitos momentos até supera a de Dujardin.
Enquanto o famoso ator tem uma atuação meio que de “palhaço” (como quase sempre), Laurent é uma atriz mais preocupada e atenta com expressões faciais, olhares e bufadas fofas.
O filme também parece ter um momento de aparente insegurança –a repetição de uma mesmíssima cena sexual com Dujardin (inclusive com o mesmíssimo enquadramento) que já havia aparecido em “Os Infiéis”.
Apesar disso, no final o público tem uma mistura bem interessante e algo engraçado e que o fará rir, embora não seja brilhante.
Mas, não deixa de honrar as boas comédias francesas do século 21.
Filme: “O Retorno Do Herói” (2018) #ORetornoDoHeroi
Onde: Em cartaz nos cinemas
Avaliação: Bom ??