Um dos documentários mais incômodos sobre a era digital pode ser visto na Netflix: “Sujeito A Termos e Condições” foi lançado no já longínquo 2013, nos EUA, mas é tão atual como se tivesse sido feito ontem.
O filme do diretor Cullen Hoback mostra de forma claríssima como a privacidade há anos está morta –em qualquer nível que se imagine–, caso você tenha um email qualquer ou participe de alguma rede social parasita de dados (eufemismo)
Ou seja, isso deve dizer respeito a uns 90% da população da Terra.
Não é só pelo fato de clicarmos o quadradinho de “aceito os termos e condições” desses serviços, e sim o fato de que desde sempre oferecemos bovinamente nossa intimidade a empresas privadas (e governos).
E essa gente simplesmente faz o que bem entende com os cliques que damos ou o que postamos.
Você sabia que qualquer foto autoral que você posta no @Instagram pode ser reproduzida, repassada e ou comercializada pela companhia do sr. Zuckerberg sem que você tenha direito a um centavo sequer?
Sabia que tudo que você posta no @LinkedIn passa a ser de propriedade da rede, ao ponto de que você talvez possa ter algum problema (de direito autoral) se publicar um texto lá e depois reproduzi-lo em seu site pessoal?
Pois é…
SUJEITO A TERMOS E CONDIÇÕES (QUAIS?)
O filme, apesar de já idoso para os padrões atuais, mostra como governos como o dos EUA, em parceria com empresas privadas e seus algoritmos, cometem barbaridades há anos.
Como um caso em que o FBI “visita” um adolescente por causa de um inocente post qualquer.
Ou como um determinado algoritmo identificou um roteirista do seriado policial “Cold Case” como um potencial assassino –dado seus padrões de buscas no Google, que ele usava para ter ideias de tramas.
É assustador, é aberrante e o mais incrível é que tudo estava escrito lá nas letrinhas miúdas ou entrelinhas que não vimos no passado. E aceitamos feito muares.
Mas, se tivéssemos visto, adiantaria alguma coisa? Hoje em dia boa parte dos serviços (inclusive governamentais, como seu IR) não existe mais para quem não está na internet.
Fica óbvio que empresas e governos não só querem como têm plenos poderes sobre todos os dados e sites em que clicamos.
Somos vigiados e “linkados” a qualquer coisa, independentemente de usarmos ou não ferramentas para tentar esconder o tráfego.
UM CASO VERDADE
Lembrei de um caso comezinho que ocorreu comigo algum tempo atrás.
Eu provavelmente autorizei que isso ocorresse, mesmo sem saber, ao comprar um celular (e vocês também autorizaram, podem crer).
Em meu laptop, numa bela noite, entrei num site pornô (oh, meu Deus, o colunista assumiu que entrou num site pornô!!!).
Sim, entrei.
E como um idiota contemporâneo, desses que se acham muito espertinhos, entrei nesse site navegando numa janela anônima do Google Chrome. Ou seja, eu não queria deixar rastros.
Não que eu tenha visto nada de anormal ou porque seja um pervertido criminoso.
Não, queridos. Eu poderia inclusive ser classificado como “provinciano e sem criatividade” nesse sentido, se é que me entendem.
No dia seguinte, porém, quando liguei meu celular, o endereço ( URL ) do site em questão –a saber, www.xhamster.com– já estava aberta no Chrome do meu aparelho.
Ou seja, eu não só tinha deixado rastros, como ainda tinha vinculado a navegação de dois dispositivos diferentes, sendo que um deles estava DESLIGADO.
Repito, não tenho vergonha nenhuma de ter olhado um site pornô. E certamente o farei de novo ainda nesta vida.
Mas, não deixa de ser ridículo que um adulto como eu, supostamente um alfabetizado digital, que inclusive trabalha na internet, ter acreditado algum dia que ainda exista o que chamamos de privacidade.
Nem que você esteja sozinho, no escurinho do seu quarto.
Filme: “Sujeito A Termos e Condições”
Origem: EUA (2013)
Onde: Netflix
Avaliação: Muito Bom ???