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O Grande Circo Místico: Filme é uma obra-prima trágica

Cena do filme "O Grande Circo Místico", de Cacá Diegues; na foto, Mariana Ximenes

“O Grande Circo Místico” estreou esta semana nos cinemas. É o filme nacional escolhido para tentar uma vaga entre os candidatos ao Oscar de Filme Estrangeiro.

Não li Túnica Inconsútil” (Jorge de Lima, 1938), mas é nesse livro que a peça e o disco se baseiam.

Em 1983, o disco “O Grande Circo Místico” foi lançado com enorme repercussão; vendeu muito, foi muito tocado e reproduzido por outros artistas. Ouso dizer que causou comoção.

Não é para menos. É maravilhoso. Eu colocaria como um dos cinco melhores discos nacionais de todos os tempos. É uma verdadeira coleção de obras-primas.

Chico Buarque e Edu Lobo criaram algo único. Casaram musicalmente de uma forma tão rara, produziram melodias tão lindas, que é preciso ser muito cabeçudo para não se emocionar.

Quase todos os arranjos de Edu Lobo estão impregnados pelo lindo e inconfundível timbre do lendário piano Yamaha Eletric Grand.

O GRANDE CIRCO MÍSTICO DE BEATRIZ

A música “Beatriz”, em especial, que é justamente a que inicia o filme de Carlos “Cacá” Diegues, é tão sublime que ainda conseguia se sobressair no meio de tantas maravilhas do LP.

Você deve estar pensando: “Por que cê tá falando do disco? Eu quero saber a crítica do filme!”

Estou dizendo tudo isso porque eu adorei o filme e nele só vi um defeito –que é justamente musical, mas eu falo disso no fim do texto.

Em resumo: o filme de Carlos Diegues faz jus ao disco. Integra honrosamente toda arte e poesia contidas naquele lançamento de 83.

É cinema, mas é teatral. É burlesco, mas refinado. Doce, mas trágico..

Eu não quero que fiquem assustados, mas a história contada na tela inclui bullying, corrupção, roubos, agressões,  traições, vinganças, assassinatos, suicídio, estupro, incesto e até prostituição de filhas pela mãe.

É inacreditável que, com tudo isso, seja ao mesmo tempo delicado e fascinante.  

Dito tudo isso encerro com minha única crítica.

Aquele disco de 1983, como já disse, é uma obra-prima. Não precisa de retoques. É música e arranjo elevados a um outro patamar na MPB.

Então não entendi o porquê de usar na trilha sonora artistas fazendo “cover” daquele disco. É questão de gosto, claro, e de gosto musical: pessoalmente achei quase todos os covers e interpretações fracos. 

Em termos sonoros, o filme até muda de “timbre” no final, quando tocam as primeiras notas e ouve-se a voz –finalmente– originais de Zizi Possi cantando a melancólica “O Grande Circo Místico”, que batiza disco, peça e filme. 

Já com relação ao elenco, duas personagens se destacam (e se fundem na linha do tempo): a Beatriz (feita por uma inspirada jovem Bruna Linzmeyer) e a Margarete de Mariana Ximenes, que merece até um intertítulo neste texto.

INTERTÍTULO: MARIANA XIMENES

Não falei que ela merecia? Isso é uma das vantagens de ter o próprio site. Posso inclusive interromper o texto a qualquer momento só para fazer comentários cabotinos.

Se eu disse que quando Zizi Possi começa a cantar, muda a tonalidade do filme, posso dizer que quando Mariana entra em cena,  muda-se a frequência.

É uma atriz admirável, ainda mais quando “casa” com o papel –caso de sua mórbida Margarete.

Não sou profeta, não sei se o filme vai ser eleito para concorrer ao Oscar, mas não tenho dúvida que é um das melhores obras que o Brasil está inscrevendo nos últimos anos, quiçá décadas.

Talvez, quem sabe, com a trilha sonora original as chances aumentassem.

Mas, de fato, é um cinemão.

Filme: “O Grande Circo Místico” #OGrandeCircoMístico

Onde: Em cartaz nos cinemas

Avaliação: Ótimo ????

Leia outras críticas de cinema e de filmes da Netflix no site Ooops 

Assista ao trailer de “O Grande Circo Místico”