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Rocketman: bom musical, mas biografia chapa-branca

Crítica do filme "Rocketman", por Ricardo Feltrin, site Ooops

“Rocketman”, que estreou na última quinta nos cinemas, me provocou.

Poucas vezes fico ansioso com estreias, mas estava curioso para saber como seria a versão cinematográfica da vida e obra de Elton John, um ídolo de irreverência e para o jovem estudante de piano que eu era nos anos 70.

As cinebiografias de músicos estão em alta, e “Rocketman” chegou aos cinemas com a dura missão de, inevitavelmente, ser comparado ao “oscarizado” e muitíssimo bem feito “Bohemian Rhapsody”.

Havia muitas sincronicidades, inclusive: o amante de Freddie Mercury, por exemplo, foi o mesmo de Elton: John Reid, que por sinal sai com filme queimado (desculpem) nos dois longas.

Freddie e Elton são ícones britânicos, talentosíssimos, nível de gênios, ótimos instrumentistas e brilhantes cantores.

Ambos como gays sofreram bullying de parentes e na vida em geral. E ambos também eram alcoólatras, cocainômanos, desmiolados, exagerados, exibidos, carentes, às vezes generosos e às vezes só perdulários mesmo. Sabem gente sem limite? Pois é…

Freddie e Elton

Pelos vários livros que li sobre ambos, se não chegaram a ser “melhores amigos”, Elton e Freddie frequentaram suas casas e festinhas.

Tinham, claro, enorme carinho e respeito um pelo outro. Quando Mercury estava já muito doente, Elton era um dos poucos visitantes com autorização permanente de entrada na Garden Lodge.

Curiosamente, nunca compuseram juntos.

Bom, dito tudo isso, falarei de “Rocketman”. A começar pelo ator, Taron Egerton, para quem tiro os óculos e bato palmas: sua composição está para Elton como a de Rami Malek esteve para “Rhapsody Bohemian”.

Sua capacidade de mesmerizar alguns tiques e expressões de Elton John, além de uma pertinente performance como “pianista”, me faz repetir o que já li em outras críticas: o filme todo, o valor do ingresso, já vale a pena só por Egerton e pela música.

E acabam aí as comparações entre as duas cinebiografias. Não que “Rocketman” seja desonesta, pelo contrário, é até razoavelmente transparente.

Mas, não chega aos pés, não arranha nem a casquinha da pele do personagem central do filme.

Elton, o produtor-executivo

Não sou adivinho, não estudei a fundo a produção, mas creio que o maior problema do filme é o próprio editor executivo, aliás sir Elton John.

O filme tem uma leitura e um viés um tanto vitimista, autoindulgente. O tema “superação” está atrás de cada cena, e de cada música.

A maravilhosa trilha, aliás, só é atrapalhada pela escolha não linear das músicas na carreira dele, o que também não ajuda, embora também não atrapalhe.

A amizade sincera entre ele e Bernie Taupin, o escritor com quem produziu algumas das maiores obras da música contemporânea (como o álbum “Captain Fantastic”) aparece bem contada. Eles realmente foram e são grandes amigos ainda.

Por outro lado, o maior e mais tórrido caso de amor de Elton John, com a senhora Cocaína, está apenas diluído (desculpem de novo) em colherinhas de chá pelo filme, quando qualquer biografia séria sabe que o cantor cheirava não em gramas, mas em quilos.

Outro fator é que Elton não era metódico como Freddie, que depois de uma noite embalado em pó e anfetaminas tinha o hábito de tomar um barbitúrico pesado para literamente desmaiar e dormir. Em termos de temeridade, como podem ver, eram iguais.

A Aids também é assunto “esquecido” no filme e sabe-se que a doença, apesar de não atingir Elton, foi devastadora para ele.

Em seu livro “O Amor É a Cura” ele fala de como perdeu dezenas de amigos e em entrevistas chegou a admitir que quase não acreditou que não havia sido infectado.

Disse isso devido a ter sido um eterno libertino e promíscuo.

“Rocketman” é um filme muito bom, excelente diversão para os olhos e os ouvidos do público. Já a história que ele conta é chapa-branca e superficial. Elton um dia merecerá outro filme. Ou quiçá um documentário honesto.

Filme: “Rocketman” #Rocketman

Onde: Nos cinemas

Avaliação: Muito Bom ???

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Assista ao trailer de “Rocketman”

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