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Minha Mãe é Uma Peça 3 desarma a intolerância

Crítica do filme "Minha Mãe É Uma Peça 3", com Paulo Gustavo; texto de Ricardo Feltrin, site Ooops

“Minha Mãe é Uma Peça 3” está em cartaz nos cinemas desde 26 de dezembro e vem batendo recordes de público.

Nesta quinta-feira (23) foi anunciado que o filme chegou a 9,3 milhões de ingressos vendidos no país, ultrapassando a versão anterior (“Minha Mãe é Uma Peça 2”).

Ainda faltam 3 milhões para virar o filme brasileiro que mais vendeu ingressos na história.

O líder ainda é “Nada a Perder 2”, que conta a vida de Edir Macedo (12 milhões).

Aliás, ainda faltam 2 milhões para superar o segundo lugar, “Os Dez Mandamentos” (11,3 milhões de pessoas).

Em arrecadação, porém, “Minha Mãe é Uma Peça 3” já deixou Macedo e Moisés para trás.

Faturou quase R$ 150 milhões, contra R$ 124 milhões do filme biográfico.

Claro, há um porém por trás desses números: desde 2018 o ingresso encareceu.

Uma coisa é uma coisa

Mas há outras enormes diferenças entre os filmes. A começar pela, digamos, realidade “material”.

Assisti ao filme de Paulo Gustavo na última quarta-feira, 18h, em um cinema de shopping em São Paulo.

Mais de metade da sala estava ocupada, o que por si só para mim já é um espanto.

E a sessão seguinte já tinha fila na porta quando deixei a sala.

Já os filmes da saga “Nada a Perder” (e mesmo “Os Dez Mandamentos”), todos sabemos, tiveram uma estratégia de guerra que eu, como amante de cinema, considero ilegítima.

Essa tática envolveu praticamente todos os fiéis, pastores e bispos da Igreja Universal.

Tanto no primeiro como no segundo filmes da biografia de Macedo, presenciei (e fotografei) telas de terminais de ingressos que indicavam que a sala estava lotada.

Dentro da sala, no entanto, havia apenas um punhado de gatos pingados.

Nada a Peder, Só a Ganhar

Primeiro digo que não sou e nunca fui fã de Paulo Gustavo e nem do tipo de humor que ele faz na TV e no cinema.

Como se diz no jargão, não sou seu público-alvo. Nunca vi os “Minha Mãe” anteriores.

No entanto, instigado pelo recorde de bilheteria, fui assistir e confesso que não me arrependo. Valeu meu ingresso.

Achei o filme uma resposta hilária ao patético (e agressivo) conservadorismo que emergiu das trevas silenciosas nos últimos anos, no país.

Pois é. Então a mim não deixa de ser irônico que, depois da bilheteria, o recorde “fake” de público de “Nada a Perder” também corra risco de cair.

Pessoalmente, torço para que sim.

Digo “fake” porque por quase um ano houve mobilização do exército de fiéis da Igreja Universal em todo o país, instados a comprar ingressos.

Entre dezembro 2017 e março de 2018, segundo este site Ooops apurou, pastores da Universal praticamente deixaram de pedir aos fiéis colaborações para igreja.

O dízimo em muitos casos foi “perdoado” para quem comprasse o máximo de ingressos possíveis para o filme do líder da Universal.

Deu certo em parte. Antes mesmo da estreia, em março de 2018, “Nada a Perder 1” já tinha vendido 4 milhões de ingressos.

O resultado porém foi o inédito fenômeno de um filme com muitas sessões esgotadas e poltronas praticamente vazias.

Que se repetiu de forma ainda mais clara com o segundo e último filme baseado na trilogia biográfica do líder da Universal.

O Paulo, o Gustavo, a Hermínia

Aí, de forma despretensiosa, aparece um ator global, gay assumido, casado.

Ele surge com o terceiro roteiro da sua personagem escrachada, Dona Hermínia.

Uma velha mãe maluca, histérica e hiperativa (que lembra um pouco a mãe de todos nós).

E no filme ela tem de se preparar porque o filho (Rodrigo Pandolfo como Juliano) vai casar com seu namorado.

Durante duas horas ri e até gargalhei com as situações e principalmente com os maneirismos da personagem.

É um filme verborrágico, e de um personagem só –visto por diversos ângulos. E cada um deles vale a pena.

Não é maravilhoso, não é o melhor filme de todos os tempos e muito menos uma superprodução.

Inclusive tenho certeza que provavelmente será o filme mais lucrativo da história nacional.

Mas, é um filme honesto, que não se leva a sério, cheio de humor áspero e crítico. E, às vezes, por incrível que pareça numa história de humor, é até emocionante.

Dona Hermínia é obcecada pelo controle, ansiosa feito um mustelídeo, escandalosa feito uma gralha, mas tem um enorme coração por trás de tudo isso.

A verdade é que ela é insuportavelmente adorável.

Escandalosa, mas com classe

Há um trecho no filme em que dona Hermínia relembra o passado.

O dia em que levou o filho ainda pequeno a uma festa da escolinha. O tema era o Sítio do Pica-Pau Amarelo e Juliano vai vestido de Emília.

Ao chegar na festa mãe e filho logo são confrontados com uma, digamos, “conservadora” indignada.

A mulher metida e empertigada se aproxima e pergunta mais ou menos assim:

“Você, Hermínia, está preparada para responder às crianças sobre o porquê de seu filho estar vestido de menina?”

E dona Hermínia responde de forma acachapante:

“Para as crianças, não. Estou preparada é para lidar com gente como você.”

“Minha Mãe é Uma Peça 3” é mais ou menos isso: um filme que chegou na hora certa e muito bem preparado para lidar e enfrentar a intolerância.

Como disse, não vi “Minha Mãe é Uma Peça 1 e 2”.

Pois agora vou ver.

Filme: Minha Mãe é Uma Peça 3
Onde: Em cartaz nos cinemas
Avaliação: Muito bom ???

Veja outras críticas de cinema e filmes da Netflix no site Ooops

Trailer Minha Mãe é Uma Peça 3

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